A VIDA ENSINA

Se você pensa que sabe;
Que a vida lhe mostre o quanto não sabe.
Se você é muito simpático, mas leva meia hora para
concluir seu pensamento;
Que a vida lhe ensine que explica melhor o seu
problema, aquele que começa pelo fim.
Se você faz exames demais; que a vida lhe ensine
que doença é como esposa ciumenta:
Se procurar demais, acaba achando.
Se você pensa que os outros é que sempre
são isso ou aquilo; que a vida lhe ensine a olhar
mais para você mesmo.
Se você pensa que viver é horizontal, unitário,
definido, monobloco; que a vida lhe ensine a
aceitar o conflito como condição lúdica da
existência.
Tanto mais lúdica quanto mais complexa.
Tanto mais complexa quanto mais consciente.
Tanto mais consciente quanto mais difícil.
Tanto mais difícil quanto mais grandiosa.
Se você pensa que disponibilidade com paz
não é felicidade; que a vida lhe ensine a
aproveitar os raros momentos em que ela (a paz)
surge.
Que a vida ensine a cada menino a seguir o
cristal que leva dentro, sua bússola existencial
não revelada, sua percepção não verbalizável das
coisas, sua capacidade de prosseguir com o que
lhe é peculiar e próprio, por mais que pareçam
úteis e eficazes as coisas que a ele, no fundo,
não soam como tais, embora façam aparente
sentido e se apresentem tão sedutoras quanto
enganosas.
Que a vida nos ensine, a todos, a nunca
Dizer as verdades na hora da raiva.
Que desta aproveitemos apenas a forma direta e
lúcida pela qual as verdades se nos
Revelam por seu intermédio; mas para dizê-las
depois.
Que a vida ensine que tão ou mais difícil
Do que ter razão, é saber tê-la.
Que aquele garoto que não come, coma.
Que aquele que mata, não mate.
Que aquela timidez do pobre passe.
Que a moça esforçada se forme.
Que o jovem jovie.
Que o velho velhe.
Que a moça moce.
Que a luz luza.
Que a paz paze.
Que o som soe.
Que a mãe manhe.
Que o pai paie.
Que o sol sole.
Que o filho filhe.
Que a árvore arvore.
Que o ninho aninhe.
Que o mar Mare.
Que a cor core.
Que o abraço abrace.
Que o perdão perdoe.
Que tudo vire verbo e verbe.
Verde. Como a esperança.
Pois, do jeito que o mundo vai,
dá vontade de apagar e começar tudo de novo.
A vida é substantiva, nós é que somos adjetivos.

               Artur da Távola

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