Baratas & Fofocas.



Um interessante texto de Fátima Irene Pinto, extraído do Jornal da Poesia. Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br/fatimairene1.html


Com esta confissão, dou as mais poderosas armas para os meus gratuitos desafetos: quem quiser me apavorar, pode usar baratas ou fofocas.

Tenho um horror tamanho à baratas que, não importa onde eu esteja, simplesmente perco a compostura e dou vexame.
Este inseto horripilante vem das profundezas da imundície, seu habitat.
Quando no chão, ela corre de forma desordenada e enlouquecida, quase sempre em nossa direção.
Não bastasse isto, resolve voar e dar rasantes, grudando em nossas roupas, em cima das nossas camas ou na tela do nosso computador. 
Some e aparece de súbito, com aquelas antenas malditas e com aquele cheiro asqueroso que impregna os locais por onde passa.

O que me conforta é saber que não sou só eu a ter este pavor: certa feita o entregador dos refrigerantes Aliança, descarregava um pesado engradado de guaranás no armazém de meu pai, quando uma baratona gigantesca desceu por seu braço. Ele não teve dúvidas e atirou o pesado enquadrado a metros de distância, para defender-se do inseto asqueroso.

Mas o que baratas têm a ver com fofocas? Muitas coisas, creio eu.

Ambas são imprevisíveis e sorrateiras. 
Ambas procedem da imundície. 
A barata vem dos esgotos reais. A fofoca vem dos esgotos mentais.
Como nunca sabemos de que lado elas vêm, nem a que horas elas vão dar o ar da (des)graça, ficamos completamente desarmadas e desprotegidas.
Ambas têm o mesmo "modus operandi" desordenado, invasivo e perturbador. 
Ambas provocam sensações de asco, repulsa e palpitações. Ambas exalam um mau cheiro peculiar e insuportável.
Ambas conseguem fazer com que percamos a compostura e a elegância, além de tirar-nos do nosso eixo.

Apenas algumas diferenças (afora o fato de serem substantivos concretos e abstratos).

Da barata nós podemos nos defender com algumas boas esguichadas de inseticida.
A fofoca é tão resistente que ainda não inventaram um inseticida à altura de seus estragos.
A barata deve ter lá a sua função no ecossistema.
A fofoca é perniciosa, não tem função necessária em sistema algum, é oriunda de esgotos mentais doentios, causa avarias irreversíveis e, o que é pior, não temos como nos defender visto que, quando percebemos sinais do seu cheiro asqueroso e repugnante, ela já seguiu além, levando consigo o bom nome de alguém, a honra e a dignidade de outrém.

Barata? A gente mata!
Fofoca? A gente isola!

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