A maior lição de minha vida: a história real minha e de minha família.

Era 31 de janeiro de 1986, na parte da tarde, quando de repente veio até a casa de minha mãe um Sr. da empresa VALMEQ\VEMAQ (ficava em frente ao Aeroporto, nas proximidades da atual Caixa Econômica) dar a notícia mais triste de minha vida: a morte de meu pai.Eu estava com 8 anos de idade na época do ocorrido.

Lembro de ter ouvido o começo da notícia. Minha mãe pediu que levassem eu e minha sobrinha mais velha (4 anos mais nova que eu) até a casa de uma vizinha para que não presenciássemos toda a notícia. Ficou em casa minha mãe e meus 3 irmãos e minha única irmã.

Morria o patriarca da família Lemos (saudoso Antenor de Lemos). Homem íntegro, religioso, presente em tudo e que vivia entre os motores de tratores e as viagens de trabalho, igreja e família.

Naquele idos dos anos 1980, a nossa família podia-se dizer que vivia bem: casa, automóveis (um carro e duas motos em garagem), viagens, os filhos recebiam mesadas - o meu pai não queria ver os filhos trabalhando enquanto estivesse vivo. Talvez o único erro dele

Depois de 1º de fevereiro de 1986, a nossa vida muda. Lembro da tristeza e comoção do enterro.A partir daquele dia tudo mudou.

Minha mãe que teve uma história tão sofrível na infância\adolescência, voltou a vivenciá-la em parte: mais de ano para receber uma pensão por viuvez - por não ter como agir e sem ter pessoas para orientá-la. Começou a trabalhar como doméstica na casa de um pessoal da mesma igreja. Também com esta mesma família trabalhou vendendo verduras e frutas. Foram mais de 2 anos nesta rotina diária.

Todos os dias quando minha mãe saía para trabalhar eu chorava. Lembro até hoje,pois de fundo tocava uma música na rádio comunitária do bairro "Confidências", de Jorge de Altinho. E lá ia aquela mulher batalhadora, que deixava em casa um filho caçula, a filha mais velha abandonada pelo 1º marido com filha pequena. Meus irmãos começavam a trabalhar...

A mudança de vida de minha mãe deu-se dois anos após a morte de meu pai. Ela começou a conviver com um companheiro de 1988 a 2011. Com isso, afastou-se a igreja. A igreja (dentro dos dogmas e 'leis') não aceitava a condição...

Meus irmãos cada um começou seguir seus rumos: casamentos constituídos e desfeitos. Família sempre morando próxima.

Mudando o rumo desta história... e resumindo outras histórias:

Todos os meus irmãos correram das escolas com medo de disciplinas como Português e Matemática. Eu fui em frente, pois a nossa mãe sabia de minha vontade e gosto por estudar.  Eles continuaram na igreja evangélica. Eu me negava ir. Lembro-me até hoje que só ia à igreja com meu pai,segurando em sua cintura numa moto.A partir de seu falecimento, as poucas vezes que fui numa igreja Assembléia de Deus ou noutras só em caso de enlance matriomoniais de amigos mais próximos...

Fui estudando escolas particulares, em faculdade particular. Tudo sendo pago pela minha mãe (sempre dizia que a pensão era herança e tinha que investir em quem queria algo na vida). E assim ela me fez a pessoa e profissional que sou. E aos meus irmãos também.

Lembro até hoje do que alcancei enquanto criança, do que o dinheiro podia dar. E sempre meus irmãos lembram das roupas, mesadas e a vida que eles tinham. O mais velho só começou trabalhar aos 21 anos,quando nosso pai morreu... E os demais na sequência. As únicas pessoas poupadas foram minha irmã e eu deste momento.Então se hoje ninguém vive tão bem, com dinheiro e um luxo de outrora, vivemos com dignidade e honestidade. Dinheiro não é tudo. Caráter é. Mas tenho um desejo: dar mais dignidade, mais apoio para minha mãe e minha família. Acredito que ainda farei isso...

Graças a minha mãe tive a formação acadêmica que tenho. Só comecei a pagar algo na minha vida a partir da Especialização (2003\2004). Mas quantas vezes, até hoje, ela não 'quebra um galho'? São tantas vezes. Isso se expande ao restante da família.

Hoje me sinto um vitorioso, não tem nada que me faça sentir-me o contrário. Tenho a melhor base que alguém pode ter: família humilde, com dignidade e sempre à ajudar. 

Meus irmãos e eu aprendemos com nossa mãe a valorizar as pessoas e as oportunidades que a vida nos deu. Até hoje mantemos as amizades de infância, nunca deixamos os problemas serem maiores que nossa força de vontade, nunca lamentamos o que perdemos. Nunca nos apegamos ao dinheiro, mesmo quando ele era mais que necessário. Nunca ficamos sem Deus em nossas vidas, mesmo quando um e outro se afastava de suas igrejas (congregações). Nunca nos afastamos de nossa fé.  Não sou de igreja nenhuma, mas me sinto tão à vontade para dizer que Sou de Deus. Ele é a minha força, minha fortaleza.

E agradeço ao Deus Todo Poderoso as bênçãos, a proteção das aparências do mal em nossos caminhos. Peço a Ele mais força,pois ainda tenho alguns desejos pessoais e profissionais.

Minha mãe diz que a família dos Lemos é a 'família do povo besta', ou seja, está sempre a fazer por todo mundo e nem sempre é vista quando faz. Isso é o diferencial. O que nos torna íntegros.

Daí lembro sempre de Martin Luther King Jr, com seu discurso "I Have Dream", e não desisto de nada.Ele teve um sonho amplo, eu tenho alguns...E não são nada extravagantes: quero fazer um Doutorado ou mais, quero conhecer o interior de Portugal, Roma, Grécia, Egito... Quero poder fazer pouco mais por minha mãe. Ela é o sentido de tanto esforço, de tanta perseverança. Reconhecer materialmente é o que menos ela quer...

No dia 20 de outubro de 2012,em meu aniversáriode 35 anos mais minha mãe.
Espero um dia começar escrever as coisas que estarei conquistando aqui e compartilhando com minha mãe, a quem dedico este post de hoje. E aproveito para contá-los que ela não sabe um terço do que aqui escrevi,inclusive as lembranças de nossas histórias. Ela nunca ouviu nada disso de mim. Mas irei começar a dizer,pois 2013 vem chegando com algumas gratas conquistas... E a maior de todas as conquistas ela me dá todo dia: carinho,amor e força de ser a pessoa que sou. E meus irmãos são todos da mesma forma.
Com minha mãe no meu aniversário de 35 anos (20 de outubro de 2012).
E aqui fica a maior lição de minha vida: guardar cada dia tudo que minha mãe e minha família passou. Acreditar, acreditar,acreditar mais em Deus e menos nos homens.




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