A televisão que (des) educa

Em maio último este artigo de opinião saiu na 1ª ed. da RIC - Revista IBGM Científica. * Publicado no Diario de Pernambuco, artigo de opinião em 01.08.2010.

A televisão que (des) educa



Há tempos que desisti de acompanhar a tevê como uma boa alternativa de cultura e passatempo. Todavia, quando não há uma ida ao cinema ou simplesmente vontade de apreciar alguma leitura e até mesmo sair com os amigos, eis que surge a imponente televisão brasileira e sua “oferta cultural”. Faço certa resistência, mas vez por outra ainda me vejo prostrado diante da mesma...Perde-se um precioso tempo zapeando canais na incessante busca de programas de qualidade, atrações enriquecedoras, um produto fácil de digerir. Mas é visível como a tevê tornou-se um labirinto, com caminhos cheios de armadilhas e, dependendo do dia, parece mais como uma caça por algum animal, mas que não nos avisaram que já estava extinto.

Graças aos deuses do entretenimento que o tempo que disponho à tevê é pouco, pois não haveria como suportar tamanha barbaridade que se tornou a programação da rede aberta. Já se foi à época que, ao chegar da jornada de trabalho, a primeira coisa a ser feita quando se entreva em casa era jogar os pertences num extremo e cair no sofá diante da televisão como se buscasse água num oásis.

Hoje, ao abrir a porta de casa corro ainda para os jornais e ignoro certas notícias; abro a bolsa onde encontro o fone de ouvido e um celular que pega rádio FM e ainda armazena meus gostos musicais. É minha salvação para quando estou longe de casa e da internet, ferramenta essa ainda distante de muitos brasileiros que “nadam e morrem na praia da televisão brasileira”, vez por outra um palco, um livro e até mesmo um circo para quem não tem outros meios de aproveitar o que conhecemos como cultura.

Por mais que tentemos resistir, à noite, no sábado antes de sair ou de dormir mais uma zapeada. Diante do anúncio da próxima atração, um lembrete sugere a indicação do programa a ser exibido. Ora é livre, ora é para 12 anos etc. Ao invés de anunciar a indicação, deveria ser dito: “Esse programa não é recomendável para você cidadão!” Até passei a me preocupar, nas noites de sábado, em ver um pouco de televisão, mas creio que não é a melhor coisa que poderia fazer, porque percebi semanalmente uma série de acontecimentos costumeiros, e começo a crer que é diário: a novela das 9, por exemplo, só mostra adultério. Pensei que era impressão, infelizmente não é:”Chifrar a vida” deveria ser o nome de cada “obra aberta” que exibem em horário nobre. Chego à conclusão que não sei mais a ordem dos letreiros que sempre vieram no final de cada novela que dizia:”qualquer semelhança com realidade é mera coincidência”. Os exemplos que vejo na tevê, vão contra a tudo que nossos pais e outras instituições ensinaram. Estereótipos de pessoas, nudez gratuita, quebra de condutas e normas regularizadoras, banalização da mulher, do homem e das leis. E até a criação de ricos instantâneos depois de enclausurarem numa casa repleta de câmeras. É o retrato da televisão em escala local e nacional. A tevê deveria ser uma aliada[educadora], porque nem todos têm acesso às devidas informações esclarecedoras, mas não; é ela que deseduca. Raro são os programas que contribuem com a formação cultural de modo positivo; eles até existem, mas são exibidos de madrugada, enquanto dormimos. Como diz Augusto dos Anjos: “A mão que afaga é a mesma que apedreja”. A máquina dos sonhos, ora é a dos pesadelos. Em meio ao desabafo, lembro que pelo menos o kit que acompanha a TV é infalível: o controle remoto que nos faz engordar quando nos prostramos diante daquela janela de plasma ou LCD, serve para mudar de canal e, quando tudo parece estar perdido, ele a desliga.

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